Turistas europeos por atacado, latinos, asiáticos e kebab experts cheios de ilusión e ganas de trabajar não são os únicos estrangeiros que sentem-se em casa em Barcelona. Não é novidade que a cidade Condal também é playground de mafiosos italianos e quaisquer outras organizações criminosas que precisem de mercados consumidores sistêmicos para um de seus carros-chefe: a cocada boa. A Espanha hoje só perde para os EUA e Inglaterra no consumo mundial do pó.
Em informe de 2004 o European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction mostrou que a cocaína liderava o ranking como principal responsável por atendimentos de emergência nos hospitais da cidade. "En Barcelona, la recopilación de datos en las unidades de urgencias de los principales hospitales de la ciudad a lo largo de todo el año durante un período de tiempo más largo ofrece una visión exhaustiva de los ingresos hospitalarios debidos a reacciones a las drogas (Gráfico 10)."
E estudo mais recente do Consejo Superior de Investigaciones Científicas concluiu que "en el área metropolitana de Barcelona se consumen cada día más de 70.000 dosis de cocaína".
Algo não cheira bem
Como a maioria das drogas a cocaína é liberada pelo organismo em forma de urina poucas horas depois de ser consumida. Por isso a metodologia utilizada pelo CSIC foi a análise do esgoto doméstico da cidade. Tranquilizantes, antibióticos e antinflamatórios também foram encontrados junto de 29 outros fármacos. Curioso como as entranhas de uma cidade podem revelar mais do que mal cheiro (ou precisamente isso).
Mas aqui o pó está debaixo do nariz de todo mundo, ou melhor, nas calles, nas ruas. Dada a legislação relax em relação ao porte de drogas de toda natureza na Espanha, em Barcelona elas são oferecidas quase que abertamente, principalmente em corredores turísticos como as Ramblas e ruas estreitas da cidade antiga.
No verão praias do Centro, como Barceloneta, são inundadas por prestadores de serviços ambulantes que invariavelmente oferecem três produtos e um serviço (não necessariamente nessa ordem): bebidas, massagem, hashish e cocada.
Praia de farlopeiros
Barcelona é metrópole de camadas múltiplas e várias sobrepondo-se em dinâmica de transformação. A cidade é pólo que vai muito além do pó dos farlopeiros. E como em todo grande centro em ebulição, tribos radicalmente alheias umas às outras movimentam-se no mesmo espaço.
Grande parcela de moradores nativos vivem à parte do mundo hype de baladas cosmopolitas 24 horas, turismo low-cost e conflitos migratórios. Outros mergulham nele. Na cidade de pedintes trilíngues, há senhoras que ainda acreditam e frequentam eventos sem recursos multimídia chamado missas. Os muçulmanos shia seguem outro caminho.
Farlopa, obviamente, não tem religião e também não está no vocabulário dos panfletos que divulgam o turismo, indústria vital para a economia do país. O slogan oficial da cidade é "Barcelona, posa't guapa". Em tradução ruim como ataque cardíaco, algo como "Barcelona, sorria para a foto!".
2 comentários:
Oi Vitor,
Gostei do texto
Qualquer semelhança com o Brasil não seria mera coincidência. Já que acabar com esse comércio ilicito é uma utopia, creio que no Brasil, deveriam legalizar as drogas pois assim como está, elas beneficiam só os contrabandistas, traficantes e fermenta uma guerrilha sem fim pelos pontos estratégicos.
Bjs
Num texto da Economist (está em um dos links aí em cima) os leitores concordam com o modelo Holandês como solução interessante de liberalização controlada. Aqui na Espanha, certamente, o modelo ainda tem que evoluir.
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