domingo, 22 de março de 2009

Sorria! Barcelona cheira 70.000 doses de cocaína por dia




Turistas europeos por atacado, latinos, asiáticos e kebab experts cheios de ilusión e ganas de trabajar não são os únicos estrangeiros que sentem-se em casa em Barcelona. Não é novidade que a cidade Condal também é playground de mafiosos italianos e quaisquer outras organizações criminosas que precisem de mercados consumidores sistêmicos para um de seus carros-chefe: a cocada boa. A Espanha hoje só perde para os EUA e Inglaterra no consumo mundial do pó.

Em informe de 2004 o European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction mostrou que a cocaína liderava o ranking como principal responsável por atendimentos de emergência nos hospitais da cidade. "En Barcelona, la recopilación de datos en las unidades de urgencias de los principales hospitales de la ciudad a lo largo de todo el año durante un período de tiempo más largo ofrece una visión exhaustiva de los ingresos hospitalarios debidos a reacciones a las drogas (Gráfico 10)."


Algo não cheira bem

Como a maioria das drogas a cocaína é liberada pelo organismo em forma de urina poucas horas depois de ser consumida. Por isso a metodologia utilizada pelo CSIC foi a análise do esgoto doméstico da cidade. Tranquilizantes, antibióticos e antinflamatórios também foram encontrados junto de 29 outros fármacos. Curioso como as entranhas de uma cidade podem revelar mais do que mal cheiro (ou precisamente isso).

Mas aqui o pó está debaixo do nariz de todo mundo, ou melhor, nas calles, nas ruas. Dada a legislação relax em relação ao porte de drogas de toda natureza na Espanha, em Barcelona elas são oferecidas quase que abertamente, principalmente em corredores turísticos como as Ramblas e ruas estreitas da cidade antiga.

No verão praias do Centro, como Barceloneta, são inundadas por prestadores de serviços ambulantes que invariavelmente oferecem três produtos e um serviço (não necessariamente nessa ordem): bebidas, massagem, hashish e cocada.






Praia de farlopeiros

Trabalhando numa reportagem sobre arte de rua, há uma semana acompanhei grupo de artistas em incursão noturna pelo Centro. Chamou atenção da turma o "trabalho" de pichadores que vêm cobrindo a cidade com a inscrição "farlopa". Obssessivamente rabiscada cidade afora, há rastros de farlopa em cada esquina. Em castelhano, Farlopa é gíria popular para cocaína. Se emprega onde a droga está presente - e a intensidade com que aparece nas paredes daqui é um termômetro do pó.

Barcelona é metrópole de camadas múltiplas e várias sobrepondo-se em dinâmica de transformação. A cidade é pólo que vai muito além do pó dos farlopeiros. E como em todo grande centro em ebulição, tribos radicalmente alheias umas às outras movimentam-se no mesmo espaço.

Grande parcela de moradores nativos vivem à parte do mundo hype de baladas cosmopolitas 24 horas, turismo low-cost e conflitos migratórios. Outros mergulham nele. Na cidade de pedintes trilíngues, há senhoras que ainda acreditam e frequentam eventos sem recursos multimídia chamado missas. Os muçulmanos shia seguem outro caminho.

Farlopa, obviamente, não tem religião e também não está no vocabulário dos panfletos que divulgam o turismo, indústria vital para a economia do país. O slogan oficial da cidade é  "Barcelona, posa't guapa". Em tradução ruim como ataque cardíaco, algo como "Barcelona, sorria para a foto!".


Edifícios oficiais de Barcelona emprestam banners para promotores da farlopa. Na foto, o Centro de Artesanato da Catalunha na Cidade Velha não fica de fora: Sinal para clientes que buscam mais que souvenirs

2 comentários:

Doroni Hilgenberg disse...

Oi Vitor,
Gostei do texto

Qualquer semelhança com o Brasil não seria mera coincidência. Já que acabar com esse comércio ilicito é uma utopia, creio que no Brasil, deveriam legalizar as drogas pois assim como está, elas beneficiam só os contrabandistas, traficantes e fermenta uma guerrilha sem fim pelos pontos estratégicos.

Bjs

Vitor Hugo disse...

Num texto da Economist (está em um dos links aí em cima) os leitores concordam com o modelo Holandês como solução interessante de liberalização controlada. Aqui na Espanha, certamente, o modelo ainda tem que evoluir.